terça-feira, 25 de setembro de 2018

Livro: Pequenos Delitos & Outras Crônicas - Walcyr Carrasco

Pequenos Delitos e Outras Crônicas
Walcyr Carrasco - 110 Págs

"Um livro de crônicas que encanta, enternece, surpreende e diverte!"


Os textos de Walcyr Carrasco são retratos rápidos, fotografias instantâneas da metrópole e de seus personagens. Cada crônica é uma nova revelação: ou mostra facetas da vida despercebidas na correria de todos os dias ou coloca em palavras pensamentos e sensações compartilhados silenciosamente por todos nós, homens e mulheres urbanos.

Carrasco escreve em primeira pessoa. Falando de si, fala de todos - e desperta a imediata simpatia do leitor. As crônicas são, antes de tudo, exercícios da arte sutil do equilíbrio: bem humoradas e irônicas, não perdem a elegância; delicadas, não resvalam para a pieguice; implacáveis na descrição dos costumes da sociedade brasileira, são também generosas, compreensivas, repletas de doçura e humanidade.

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Geralmente quando me programo para ler os livros que estão na minha "enorme" lista de leituras, eu pego o livro, olho bastante pra ele, saio lendo tudo antes de ir para a real estória do livro, ou seja, antes de iniciar uma leitura, tem todo um processo pra poder iniciar a leitura rsrs. Pois bem, esse maravilhoso livro: Pequenos Delitos de Walcyr Carrasco, me pegou de surpresa e num momento delicado em minha vida, mas que serviu de consolo, amigo, parceiro, durante esse momento (que está tudo bem agora). Por isso que dizem que depois do cão (cachorro), o livro é o segundo melhor amigo, mas pra quem não tem cachorro como eu (já tive, hoje não mais), o livro é sempre meu primeiro melhor amigo.

Divertido, a escrita e narração bem envolventes e humoradas, como são crônicas, não tem uma ordem pra seguir a leitura, no meu caso eu gosto de seguir rsrs, Sintam-se livres para lerem da forma que bem entenderem, leituras para todos, mais que recomendado, abaixo deixarei um trecho do livro para você (meu caro leitor) se deliciar com as aventuras de Walcyr Carrasco.

Ótima Leitura!

Até a Próxima!

Grande Abraço ^^

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Medo da Velhice

HÁ POUCOS DIAS EU ESTAVA no aeroporto, prestes a pegar a ponte aérea. Carregava a maleta um tanto pesada, com livros, agendas, remédio para o colesterol e tudo aquilo que dá medo de despachar e perder. Andei até o avião. Meu ombro doía. De repente me veio a sensação. — O que farei quando for idoso e não der conta de levar este peso? Foi desconfortável. À medida que fico maduro, tomo consciência de que a cidade é feita para quem está no auge da saúde, com força total. Não gosto de chover no molhado, e cair em saudosismo romântico, dizendo que antes era bem melhor. Mas há uns trinta anos eu quebrei o braço direito e andei de tipóia um bom tempo. 

Nunca havia imaginado que as pessoas pudessem ser tão simpáticas e solidárias. Sempre havia alguém para me ajudar a subir no ônibus ou carregar meus livros escolares. Ofereciam-me o lugar para sentar. Uma colega copiava as.anotações da universidade no meu caderno. Agora parece que esse tipo de solidariedade automática, desinteressada, anda em extinção. São freqüentes as reportagens sobre as peruas que não param para idosos. Quando saiu a lei do passe livre, minha mãe e minhas tias se divertiam visitando-se mutuamente. Sentiam-se especiais, bem-cuidadas. Hoje me dói o coração quando passo em frente a um ponto de ônibus e vejo um grupo de velhas, muitas vezes no vento e no frio, esperando um tempo absurdo pelo transporte — como se fosse uma esmola. Pior: nem que queiram pagar conseguem. 

Muitos motoristas fogem diante dos cabelos brancos. Se entro em uma loja vejo uma senhora idosa examinando um artigo em promoção, invariavelmente a vendedora está com ar impaciente. Prefere atender gente com vontade de comprar mais depressa. Pessoas idosas são muitas vezes solitárias. Gostam de conversar um pouco mais, de ter uma conversa amigável com o vendedor, com o garçom. Soube de uma senhora, de origem norte-americana, que ficou sozinha no mundo. Mudou-se para um hotel médio, no centro da cidade, para sentir-se mais segura e protegida. Eu costumava jantar no restaurante desse hotel. 

Invariavelmente ouvia queixas de que ela era chata, impaciente, que reclamava muito. Ninguém parecia entender que se tratava de uma mulher sem parentes, em um país estranho, provavelmente assustada. Necessitando, simplesmente, de um pouco de calor humano. Acabou se mudando, nunca soube para onde. Conversando com um amigo dedicado a causas sociais, descobri que existem muitos voluntários para programas ligados à infância. Um número expressivamente menor para idosos. Como se pelo fato de já terem idade, não tivessem tanta importância assim. Mesmo nas famílias. 

As pessoas estão o tempo todo muito ocupadas. São poucas as com disposição para passar uma tarde ou uma noite batendo papo, preparando um jantarzinho melhor, trocando afeto. O velho é obrigado a entender que a vida do neto corre depressa, e que ele não tem paciência para seu ritmo mais lento, para suas recordações, para seu modo de ver o mundo. Talvez diferente, talvez conservador, mas nem por isso a troca de experiências seria menos válida. Penso que nossos ancestrais sabiam lidar melhor com a velhice. Viviam em cidades menores, os vizinhos se conheciam, e um ajudava o outro. Sempre havia alguém para fazer uma sopa, para pedir ajuda em caso de doença. 

Na cidade grande, é sempre uma correria onde freqüentemente se esquecem os valores humanos. É duro olhar para esse mundo e se perguntar: O que será de mim, quando for velho? Talvez, se todos se fizessem a mesma pergunta, as coisas poderiam melhorar a partir de agora.

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